quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

A casa universal

Da série "Contos Antigos"

Todo mundo já nasce com esse sentimento. É como o branco do olho e a certeza da morte. Assim também, como as realidades quase palpáveis e indiscutíveis, o que ele sabia toda manhã, o que o olho enxergava logo cedo, o que sentia na alma, a finitude; assim as montanhas ao redor da casa. Não eram azuis, eram lilazes, já viu cor mais esquisita para uma montanha? Pois bem, essas eram lilazes. Era a cor da terra vermelha, misturada ao roxo dos cascalhos e ao marrom dos pedregulhos. De longe eram instigantes, aquela beleza imperfeita que torna o mundo um lugar cheio das incertezas que nos fazem acordar todos os dias achando que vale a pena...acordar todo dia.
Ele levantava lá pelas cinco da manhã. Ele já havia viajado por países tão distantes que ninguém mais acreditava que ele havia mesmo viajado para países tão distantes.
Suas histórias ocupavam, agora, o lugar do fantasioso, do inventado: o território da memória. Ninguém o levava a sério e nem ele fazia questão que o levassem. Era um velho cheio de manias e estava quase feliz vivendo na paisagem ilimitada da sua memória como se entre os destroços de uma velha ferrovia ou de uma grande nau abandonada.

Ana Vargas - Janeiro de 2009

Nenhum comentário: